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PROGRESSO DEFASADO - O desafio de Goiás aos políticos

No ano do centenário de Goiânia (2033), a população de Goiás deverá ter mais de 7.712.596 moradores. Serão mais de um milhão de novos residentes no Estado, cuja taxa de crescimento habitacional e econômico superam às do País. Estudo feito por várias instituições como a Associação de Bancos do Estado de Goiás e Tocantins (Asban), Fundação Mauro Borges e do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam os desafios para os novos inquilinos da Casa Verde nos próximos 15 anos.


SERVIÇOS

Em 15 de março de 1983, quando terminou o governo de Ary Ribeiro Valadão (PDS), o último governador nomeado fez a transmissão do cargo para o governador eleito, Iris Rezende Machado (MDB), deixando um contingente de 18 mil policiais no Estado, que compreendia ainda o antigo Tocantins. A população era de 3.359.628. Hoje são 6.860.047 habitantes e a corporação tem pouco menos de 12 mil na ativa. O Estado tem hoje 4.622 escolas e 45.053 salas de aula. Quantas serão necessárias em 2033 para atender ao incremento de mais de um milhão de pessoas? E no saneamento básico? No ano do seu centenário os moradores da Região Norte de Goiânia poderão comemorar o fim da fedentina e da poluição do Rio Meia Ponte? E a crise hídrica? A Barragem do João Leite fornecerá a água necessária para a Região Metropolitana? São essas e muitos outros problemas que terão que ser respondidos pelos próximos ocupantes da cadeira de governador na próxima quinzena.



Mário Fernando Maia Queiroz

Presidente da ASBAN


CONCENTRAÇÃO

Mário Fernando Maia Queiroz é presidente da ASBAN, e acompanha atentamente a evolução econômica do Estado. Ele observa que no período de 2005 a 2015, enquanto o Brasil teve um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 176%, Goiás cresceu 222% na década, chegando em 2016 a 178.848 bilhões, o que corresponde a 2,9% de tudo que é produzido no Brasil e 30% do que se produz no Centro-Oeste. Goiás é a nona economia do País, com um PIB per capita de R$ 26,265 por habitante, o que coloca a população como a oitava em capacidade de consumo no país.


Mas Mário Queiroz ressalta que as estatísticas não podem ser absolutizadas. Ele salienta que embora a economia goiana avance em relação ao país, o desafio dos próximos governos é combater as desigualdades no desenvolvimento regional criando melhores oportunidades de trabalho e renda em regiões dinâmicas. Como exemplo observa que apenas seis cidades concentram 51% das riquezas do Estado: Goiânia, Anápolis, Aparecida de Goiânia, Rio Verde, Catalão e Itumbiara, ou seja, os outros 240 municípios, detém os outros 49%. Também chamam a atenção que mais de 40% do eleitorado esteve concentrado nestas cidades de Goiânia (22,2%), Aparecida de Goiânia (6,7%), Anápolis (6,1%), Rio Verde (2,9%) e Luziânia (2,5%). O peso político destas cidades amplia a representação no Executivo e no Legislativo e concentra a destinação de recursos para estes municípios.


DESIGUALDADES

As desigualdades regionais chamam atenção quando se observa a distribuição do PIB a preços correntes por região. O Entorno de Brasília, por exemplo responde por 18% da população e apenas 10% do PIB, vale ressaltar, porém, que enquanto na década de 2005 a 2015, a economia do Estado teve crescimento do PIB de 222%, a Região do Entorno de Brasília ultrapassou a casa dos 250%, ficando acima da Região Metropolitana de Goiânia (RGM), que ficou na marca de 223% e do Sudoeste que teve pouco mais de 225% no mesmo período. Ou seja, embora tenha dificuldades, é uma região que tendo incentivos deve responder positivamente.


Do ponto de vista da comparação PIB/população, a RGM teve ganho com 39% do PIB e 37% da população. O Centro Goiano tem a relação 11%/10%. As regiões mais prejudicadas são o Nordeste Goiano com 3% da população e apenas 1% do PIB e o Noroeste (5% da população e 4% do PIB) e o Oeste (5% da população e 4% do PIB). Já o Sudoeste tem 9% da população e 14% do PIB, o Sudeste, 4% da população e 6% do PIB.


Equilibrar as demandas por emprego e renda da população, o crescimento vegetativo da folha de pagamento dos servidores públicos e dar respostas às necessidades de equilíbrio regional são as perguntas que os candidatos a governador tem que responder para receber o voto nas eleições de outubro


INCENTIVOS

Onde está a principal distorção no desenvolvimento regional? Uma das respostas pode ser os incentivos fiscais que aquelas cidades que concentram 51% do PIB tem, que as outras não tem. Os polos farmoquímicos de Anápolis e Aparecida de Goiânia, as montadoras instaladas em Anápolis, Catalão e Itumbiara; o complexo de abatedouros de aves e suínos em Rio Verde, através dos investimentos da Perdigão, as cooperativas de leite e de grãos nas regiões Sul e Sudoeste sublimam os investimentos que o governo do Estado realiza noutros municípios.


MICROCRÉDITO

Mário Queiroz já foi diretor do antigo BEG (Banco do Estado de Goiás) e um dos responsáveis pela implantação da Agência de Fomento de Goiás (Goiás Fomento). Com experiência e olhar clínico, avalia que a política de micro crédito tem o condão de dinamizar as oportunidades de desenvolvimento. Ele lembra que segundo o IBGE, 80% dos postos de trabalho no país são criados a partir de micro e pequenas empresas “Num momento de recessão e desemprego em alta, na casa dos 15% da população, abrir carteiras de créditos de R$ 5 mil a R$ 50 mil reais tem mais impacto na geração de emprego e renda do que grandes projetos de incentivo fiscal”, avalia.



Angelo Silva Cavalcante

Professor de Economia da UEG


DIVERSIFICAÇÃO

Dados do Instituto Mauro Borges de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos, ligado à Secretaria do Planejamento do Estado (SegPlan), também advertem para os riscos da monocultura para economia dos municípios. O avanço indiscriminado da cana-de-açúcar e da soja, cria desertos verdes, com impacto direto na renda familiar e na arrecadação dos municípios. Professor de Economia da UEG (Universidade Estadual de Goiás), Angelo Silva Cavalcante destaca como exemplo a política adotada na cidade de Rio Verde, na gestão do saudoso prefeito Paulo Roberto Cunha, que determinou o zoneamento agrícola do município, impedindo que o plantio de cana-de-açúcar avançasse sobre as áreas de milho e soja, o que inviabilizaria a manutenção das granjas de aves e de suínos que abastecem o complexo da Perdigão. “ Goiás deveria ter uma política para incentivar o aproveitamento das pastagens degradadas para agricultura, além de retomar aquilo que foi feito no período do governador Mauro Borges que era o apoio à agricultura familiar, com assentamento de núcleos familiares, democratizando o acesso a terra”, pondera.


Análise feita pelo Instituto Mauro Borges destaca a diversificação de culturas como um dos principais motivos para que o município de Cristalina se sobressaia sobre os demais municípios do Estado. Cristalina ocupa o primeiro lugar no ranking estadual do PIB Agropecuário com 5,2% do Valor Adicionado, sendo que a atividade primária representou 58,6% da estrutura produtiva do município. A região, que concentra o maior número de pivôs de irrigação da América Latina, tem grande produção de trigo, sorgo, soja e milho, mas avançou na produção de hortifrutigranjeiros, com grande número de áreas plantadas de alho, batata, cenoura, beterraba, ervilhas, milho de conserva, maçã, uva, pêssego e no confinamento bovino.


DESTAQUES

O setor de construção civil e o agronegócio são os maiores tomadores de dinheiro junto às instituições financeiras, e, consequentemente, são os principais responsáveis pelo crescimento econômico do Estado. Somente no ano de 2017, os financiamentos imobiliários corresponderam a R$28,824 bilhões contra R$ 19,430 bilhões do setor agropecuário. A indústria, no entanto, tem perdido espaço. A recessão econômica tirou postos na construção civil e os setores farmoquímico e automobilístico registraram queda em Anápolis, Itumbiara e Catalão. O setor de serviços teve crescimento, principalmente em Goiânia graças a fenômenos do varejo como os negócios na Rua 44 e Feira Hippie, que refletem mais a dinâmica da precarização do trabalho do que um boom econômico de fato.


Equilibrar as demandas por emprego e renda da população, o crescimento vegetativo da folha de pagamento dos servidores públicos e dar respostas as necessidades de equilíbrio regional são as perguntas que os candidatos a governador tem que responder para receber o voto nas eleições de outubro.


FONTE: DIÁRIO DA MANHÃ 30/07/2018 - ANO 38 - Nº 11.244 - PÁGINA 13

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